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O peso da emoção

18/05/2006, Pedro Luis Campos Alves

Nos últimos anos discute-se muito os julgamentos havidos no Festival de Parintins, transferindo a derrota para um erro havido nas notas dadas pelos jurados, chegando inclusive a acusações, tanto de um lado como do outro, de que nos bastidores o julgamento é decidido na compra dos jurados. O que penso é que a diferença, que muitos consideram como exorbitante, alcançando mais de 50 pontos em alguns anos, é na verdade fruto de um regulamento mal estruturado. Mas esse é um assunto que tratarei em outra oportunidade. Hoje estou aqui pra falar sobre o peso do item mais importante do Festival Folclórico de Parintins e que não está no regulamento oficial: A EMOÇÃO.

Considero essencial para um resultado mais técnico, e aqui não me entendam como justo, pois na visão do torcedor apaixonado o justo é relativo, que o corpo de jurados seja composto por pessoas altamente qualificadas nas áreas afins que irão lançar suas notas. Isso nos festivais mais recentes parece ser uma tendência, fazendo com que um jurado com conhecimento em música, por exemplo, julgue itens como levantador, batucada(ou marujada), toada letra e música, e por aí vai, ao contrário do que acontecia há poucos anos. Colocava-se um jurado pra julgar todos os itens, já começando aí a falha, uma vez que acho pouco provável que alguém consiga julgar com segurança todos os itens em uma apresentação de três horas, uma vez que muitos se apresentam ao mesmo tempo na arena, tornando duvidosa a qualidade desse julgamento, mesmo com a imparcialidade do jurado em questão.

E onde entra a emoção no julgamento? Quando passa a ser composto por um corpo “leigo”, e aqui se entenda não o ignorante, mas aquele que nunca sentiu a emoção de assistir ao vivo um festival, essa emoção acaba sendo fundamental. Para traçar um paralelo vamos aqui citar e analisar o resultado obtido em julgamentos feitos pelo tribunal do júri nos delitos penais aplicáveis. A crítica hoje em voga que se faz a esse corpo de jurados, vindo das mais diversas camadas da sociedade, é que acabam se deixando influenciar muito pela emoção na hora de dar um veredicto de inocente ou culpado. Os advogados criminalistas, sabendo disso, usam todos os seus recursos dramáticos para o convencimento. Ganha que souber conquistar o cliente, no caso o jurado, também fundamentado nos argumentos técnicos, mas principalmente apoiado pelo campo emotivo, aos quais somos, em geral, muito suscetíveis.

Em Parintins, mesmo com a tendência atual de que o corpo de jurados julgue apenas aqueles itens que mais lhe são afetos, já adotada desde 2003, a emoção ainda vai persistir como base sólida na hora de um julgamento. Não com tanto peso como antes, mas ainda considerável. Tendo por base isso os bois sempre utilizaram em suas apresentações detalhes que mexem com o campo emocional, seja vindo da sua apaixonada galera, ou através de uma entrada surpresa do boi na arena, na aproximação de um item aos boxes onde ficam os julgadores, ou ainda pela encenação de um rito católico, nos versos tirados pelo amo em exaltação ao boi ou de uma toada que fale sobre preservação da natureza, da cultura indígena ou cabocla. Para o antropólogo, por exemplo, que escolhido como jurado mostra um currículo qualificado no seu campo de atuação profissional, mas leigo em termos de evolução de boi-bumbá ou toada letra e música, se torna uma tendência dar a maior nota aquele que o consiga emocionar, e nisso considero que o Garantido leva vantagem, pois tem no seu grupo pessoas que trabalham especialmente levando em consideração esse aspecto.

Com isso vai ganhar sempre o melhor? Talvez não tecnicamente, mas é preciso considerar que a visão de muitos dos que hoje criticam e mostram as falhas de boi contrário, para realçar a desmerecida derrota, é a de quem já tem anos de experiência no festival, seja trabalhando no boi de arena ou como espectador. Basta relembrarmos do nosso primeiro ano em Parintins para entender a visão dos jurados e o peso da emoção nas apresentações. Quem vai ao Festival pela primeira vez se orgulha em dizer e relembrar aquele momento no Bumbódromo que o fez se emocionar, que o levou às lagrimas ou o fez arrepiar, que o fez pular e querer gritar mais alto torcendo pelo seu boi. Então como criticar os jurados se de repente eles não acertaram tecnicamente (na nossa visão de torcedor)?

Vai ganhar aquele que conseguir realizar melhor seu intento. É nesse ponto que discordo de um artigo já escrito aqui onde o autor diz que o Garantido ganha porque realiza puramente um trabalho técnico, deixando de lado a emoção. Concordo com a primeira parte, pois sempre deve haver a técnica na condução da apresentação, mas ele ganha justamente porque mesmo técnico, assim como o Caprichoso, consegue ser melhor no item EMOÇÂO. Virão aqui os torcedores contrários alegar que não se emocionam com o Garantido, o que é normal, pois com certeza acontece o mesmo com os torcedores encarnados, quando o contrario se apresenta. Mas estamos aqui falando de emocionar os jurados, e são eles que definem quem realmente será o campeão.


Pedro Luis Campos Alves é funcionário público federal, paraense e mais um apaixonado pelo Festival de Parintins


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